Arruda - Montejunto - Arruda
2 de Outubro 2011 72Kms longa/dura
Esta pedalei-a e tratei dos
vídeos, mas quem se deu ao trabalho de escrever a crónica
foi o nosso amigo Jorge
Veiga. Para quem não tem tempo ou pachorra para ler esta longa
crónica, o nosso amigo Fred
meteu mãos à obra e tratou de nos presentear com o vídeo
da volta em 3 minutos
... e cá vai...
Um dia que certamente ficará na história do grupo "Bicicletando",
nunca uma volta destas havia sido feita. Os 70 quilómetros de distância
entre Arruda dos Vinhos, a Serra de Montejunto com regresso ao ponto de partida
e mais do que isso, os mais de 1700 metros de elevação que tínhamos
pela frente, prometiam emoções muito fortes, para o bem ou para
o mal, dependendo da capacidade física de cada um.
A "organização"
alertou: este passeio não é para quem quer, mas para quem pode.
Os participantes começaram a chegar a conta-gotas a partir das 8h00,
com hora de partida prevista para as 8h30.
A animação era geral e a boa disposição reinava.
Por enquanto...
Antes de partir, uns pequenos ajustes. A Patrícia tinha uma bicicleta
nova e havia que prepará-la para o desafio.
O
grupo ia aumentando e dele faziam parte três elementos do BTT
Lourel.
A verdade é que por um motivo ou por outro, entre afinações,
cafezinhos e os atrasados, a saída deu-se 15 minutos depois da hora marcada.
Bom, mas desta vez também não tínhamos o sino, que no sítio
do costume (Algueirão), costuma marcar a hora de saída do "Bicicletando".
Adiante.
Por volta das 8h45, lá fomos nós em grupo pela Arruda dos Vinhos,
que, àquela hora da manha, quase se diria que estava por nossa conta.
Saímos
da vila em direção a Casal Sovelas e esperava-nos a primeira subida
do dia que colocou logo à prova a condição física
do grupo.
A subida continuava em direção a Casal do Nogueira.
Com meia hora de viagem, chegámos a Zibreira de Fetais e enfim, ao topo
da primeira subida. Tínhamos começado com 125 metros de altitude,
mais coisa menos coisa e já estávamos com 328 metros, bem mais
do dobro. Mas com apenas 6,67 quilómetros percorridos. O grupo já
suava e bem... "Onde é que nos viemos meter", "já estou de rastos",
"é preciso dosear o esforço", ouvia-se...
Mas não havia tempo para descanso, e à voz de comando do nosso
líder, lá seguimos por um misto de alcatrão e estradão,
desta vez sempre a descer, onde os papa-léguas se encarregaram de distribuir
uma valente nuvem de pó para os que pretendiam apreciar a bela paisagem.
Chegados a Bonvizinho o grupo reuniu-se para a primeira visão da dura
batalha que seria a subida à Serra de Montejunto, contemplando a altitude
e a distância que ainda teríamos que percorrer.
Um
silêncio generalizado de contemplação dominou o grupo, que
rapidamente foi desfeito pela gargalhada geral quando um dos membros decidiu
aproveitar uma pedra com um formato comprometedor, para mostrar à serra
que estaríamos firmes e hirtos no nosso propósito.
Continuando por Palaios e ao largo de Ribafria, com umas valentes descidas,
ficámos todos a recuperar pela passagem do Peito Roto. Passámos
a marca dos 10 quilómetros e cerca de 50 minutos de andamento efetivo.
A
partir daqui foi um misto de grandes descidas com pequenas subidas em alcatrão
e estradão onde mais uma vez rodamos a velocidades vertiginosas pondo
à prova as nossas rodas e travões.
O grupo continuava animado e a rodar com prazer.
A
meio caminho entre Sobreiros e Aldeia Gavinha, a intransigência de um
proprietário/caçador, quiçá cansado de ver a sua
propriedade atravessada por bttistas, ou frustrado por a caça não
estar a correr de feição, decidiu obstruir o caminho traçado
com o mais variado entulho. "Por aqui não é o caminho!", disse.
Para compensar, logo outro caçador, se prontificou a ajudar os viajantes
em caminhos alternativos. Juntamente com o nosso líder fizeram uma leitura
do terreno encontrando a melhor solução para continuar o passeio.
Traçada a rota em campo de vista, lá seguimos. Uns por um lado,
outros por outro, mesmo por cima dos campos lavrados, na esperança de
não encontrar algum objecto que provocasse furos.
Bem dito bem feito. O walkie-talkie não trazia boas notícias e
alguém tinha mesmo tido um furo. Justamente o companheiro que, havia
15 dias, sofreu um rasgão no pneu de trás.
A pausa convidou à conversa. E à merenda também. Afinal,
para trás ficavam 14 quilómetros de viagem.
Furo reparado, grupo reunido, continuamos em direção à
Aldeia Gavinha, subindo e descendo por estradões largos, animados pela
visão da serra que se aproximava a cada pedalada.
Chegámos a Quentes com 20 quilómetros de viagem e 1h40m na bicicleta
(tempo em movimento) e 137 metros de elevação. A partir daqui
seria sempre a subir até ao topo da serra.
Seguimos pela M520 em direção a Penedos de Alenquer. Antes de
entrar nesta localidade agrupámos para um breve descanso e as devidas
afinações na montada nova da Patrícia, pois o selim ainda
não estava devidamente no lugar.
O calendário já marcava o Outono, mas o dia estava quente. Às
11 horas estavam 26 graus e o desejo de líquidos frescos aumentava a
cada pedalada.
Quinze minutos depois parámos no Café Penedo, em Penedos de Alenquer.
Bicicletas à sombra, o grupo "assaltou" o espaço. Águas
para a maioria. Outros, mais audazes certamente, preferiram apostar na ingestão
de qualquer coisa mais energética, mais concretamente, sumos de cevada
em garrafas de 33cl. Para comer o grupo escolheu barras energéticas,
a típica "sande" de queijo, de marmelada, os saquinhos de frutos secos.
À porta do "Penedo" tudo serviu para revitalizar o corpo e a alma.
Prosseguindo
a viagem, tomámos um estradão em direção à
Portela do Sol com a serra mais imponente e majestosa do que nunca. Não
era o Evereste, mas impunha o devido respeito aos aventureiros.
O passeio foi bonito. Com moinhos de vento de um lado e do outro, todos restaurados,
aproveitávamos os últimos quilómetros planos antes da subida
para a serra, para acelerar mais um pouco.
Para
trás, ao quilómetro 25, ficou a Portela do Sol e seguimos para
a aldeia Casal do Chorão. Este trajeto fez-se por "single
tracks" repletas de pedras com subidas jeitosas. Não havia grande
volta a dar. Tínhamos mesmo que pôr os pés no chão.
A partir desta aldeia apanhámos outro caminho ainda com mais inclinação,
obrigando os mais desgastados a socorrerem-se da "avózinha" para continuar.
A esta altura só se ouvia o grupo a arfar.
Reagrupámos no sopé da serra por volta das 12h30m, com 2h40m de
tempo de deslocação, 28 quilómetros percorridos e com uma
altitude de 405 metros. Aqui, aproveitámos para retemperar as forças
e animar espírito para a etapa final até ao topo da montanha.
Aqui sim, ia ser a doer...
Até apanhar a estrada nacional de alcatrão, deparámo-nos
um uma enorme ladeira de pedras e cascalho solto que obrigou muitos a saírem
da montada e seguirem a pé. Nada de brincadeiras, sempre a subir.
Chegados ao alcatrão só havia uma direção. Para
cima. Uns mais rápidos, outros mais lentos, uns na conversa outros mais
concentrados, mas todos animados pela vontade em conquistar a montanha. Seguimos
até ao topo.
Chegámos enfim. Era já uma da tarde. O corpo cansado, mas com
o sentido de dever cumprido a uma altitude de 651 metros e 32 quilómetros
de viagem.
O calor apertava. Estavam 30 graus, mas o cansaço e a necessidade de
hidratação faziam crer que estavam perto dos 40. Comida fora das
mochilas, altura para repor calorias. Depois, a foto de grupo.
A água já escasseava e havia a esperança de que pudéssemos
reabastecer numas instalações militares ali próximas.
A informação tinha-nos sido dada por um dos companheiros do grupo,
mas após a descida por um pequeno mas empedrado "single
tracks", tal não veio a concretizar-se. Seguimos viagem.
Chegámos à real Fábrica do Gelo (www.realfabricadogelo.com)
e o portão fechado obrigou a que entrássemos de bicicletas ao
ombro. Quase na saída, entrámos num parque de merendas e já
só pensávamos na água. Qual cerveja, qual quê!!!
Restabelecido o grupo, esperava-nos uma das grandes surpresas do dia: um oásis
no meio do deserto.
Um grupo de escuteiros e suas famílias faziam ali um valente piquenique.
E, pela ousadia de um membro do grupo que lançou a deixa, começaram
a reparti-lo connosco. Oh Céus!!! Eram tartes, fruta do pomar lá
de casa, panados, rissóis, etc., tudo nos era oferecido de bandeja, a
troco de uns dedos de conversa e muito boa disposição. Bem hajam...
Barriga cheia, moral em cima, continuámos viagem.
Primeiro
a subir, para logo depois descer a montanha pelo lado oeste nuns "single
tracks "vertiginosos, técnicos e muitos exigentes. Iniciámos
aos 555 metros de altitude, percorrendo cinco quilómetros até
aos 260 metros, altura em que fomos brindados por uma bonita paisagem de um
enorme planície.
Continuamos a descer, e bem, descemos 160 metros durante cinco quilómetros
até à Abrigada por grandes estradões onde o piso marcado
pelo rodado dos tratores provocava uma trepidação constante por
todo o corpo.
Dali
seguimos a Casal de Além, passando ao largo de Bairro e Casal do Salgueiro,
chegando ao km 50 da nossa viagem.
Por volta das 16h30, chegámos a Espiçandeira, onde fizemos o segundo
reabastecimento técnico no café sem nome da pequena vila. Hidratar
era a palavra de ordem e nesta altura com alguns elementos a denotarem um desgaste
considerável.
A pergunta nesta hora era: quanto tempo mais ainda falta??? e sobretudo, quantas
subidas...
Era preciso manter o ânimo e quem tinha GPS ou altímetro, tentava
"enganar" quem não tinha. "Só falta uma pequena subida, agora
é fácil", dizia-se...
Ilusão. Estávamos nesta altura a 67 metros de elevação
e quase 25 quilómetros para o fim, com umas passagens pelo meio a 287
metros. Não
foi pêra-doce, mas tinha que ser feito e com força. Continuámos
viagens por Casais da Ribeira, Cossoaria, Casal do Macaco, onde começámos
novamente a subir, tomando a M1116 em direção a Santana da Carnota.
Aí, mais uma subida até Casal da Monteira.
Era inevitável e a partir desta altura o grupo dividiu-se. De facto havia
elementos que estavam muito cansados, desidratados e subnutridos que obrigavam
a um abrandamento no andamento. O grupo dos mais frescos, ainda com boas pernas
seguiu viagem em direção à Zona Industrial das Corredouras
e à Zona Industrial de Arruda dos Vinhos repletas de boas descidas em
estradão.
Daqui até ao ponto de partida foi um pulinho, percorrendo o interior
da vila até ao parque da estacionamento da Praça de Touros.
Resultado final: 72 quilómetros de puro prazer, com tudo o que um bttista
tem direito, 6h30m em movimento, 1759 metros de ascensão a uma média
de 11km/h. Foi duro, mas ficámos com vontade de repetir.
...e o agradecimento ao Pessoal
do Lourel que para além de nos aconselhar o trajecto também
o juntaram a pedalar