Pouco depois das cinco da manhã já os primeiros pedaladores
se juntavam no ponto de encontro para mais uma das nossas aventuras. Foi-se
juntando o pessoal
do Lourel, do BTTretas
e de outros conhecidos conglomerados de BTTistas e com a chegada do autocarro
(milagre do do nosso amigo Mário), primeiro momento de alívio
pois o autocarro
era mesmo dos grandes. Abertas as portas do porão de carga tratou-se
de começar a encafuar as máquinas que sem a roda da frente
e com os cartões e espumas que se tinha ficaram muito bem acondicionadas.
Brilhante trabalho do nosso amigo João e seus ”muchachos”
na obra de entalar as biclas.
De lista na mão foi-se pondo o visto aos convivas e acertaram-se
a vagas dos que não puderam vir com os “Condicionados”
estando-se assim prontos para partir…. ou quase…. que isto há
sempre uma alminha
que não consegue estar a horas levando assim o programa o seu primeiro
rombo (quem não consegue estar a horas chega mais cedo). Com quase
meia hora de atraso lá nos fizemos ao caminho estrada fora com grande
parte dos convivas a aproveitar para recuperar algum do sono interrompido
e outros para dar à língua em antecipação à
pedalação que se previa. Com uma breve paragem para o café
seguiu-se caminho aproveitando para ir deitando o olho aos trilhos que se
viam ao longo das estradas entremeado como com umas flashadas aqui e ali
para ir registando o momento e os dorminhocos de boca aberta. Já
para lá de Beja, segunda falha, devíamos ter ido por Serpa
e não por Mértola. Custou-nos mais quase outra meia hora e
umas quantas curvas (é mais perto mas não compensa). Chegados
ao local nova dor de cabeça… de onde apareceu esta gente toda?
Será que há mais outros passeios? Mas não, era tudo
para o mesmo. Lá ficou o meu neurónio da navegação
às voltas a tentar descobrir como é que se leva esta gente
toda de uma ponta à outra da volta. Desatafulhadas as biclas, e depois
de uns “é pá cheguem-se lá aqui” lá
se juntou o cardume frente ao improvisado parlatório para as recomendações
da praxe.
Estava-mos nós no meio do cardume a tentar saber o que se passava,
e qual tirar bolinhas do saco com números, chamaram-se os sorteados
designando-se assim os guias “oficiais” da volta. No meu cérebro
apenas um pensamento “Fixeee!”, alegria total do meu neurónio
navegador que não parava de dar pulos por o meu número não
ter saído. Nem contestei, os habituais das nossas voltas ainda olharam
para mim para ver se eu punha o dedo no ar, mas o meu neurónio estava
feliz demais com a possibilidade de um dia de folga nestas coisas de “desorganizar”
BTTistas (desculpem
lá esta balda). Dilui-me
rapidamente na multidão, conversei com todos, tirei bonecos com fartura
(as 147 fotos provam isso), apreciei a paisagem a ainda ouvi uns “tá
andar” e outros “ninguém passa à frente dos guias”
no meu vaguear ao longo do extenso pelotão, sim perto de 60 pedaladores.
O meu bem-haja aos voluntariosos guias, que não estando no programa
e saídos não sei de onde, nos aliviaram o dia.
Só para lá das 10h15 é que a massa de BTTistas se começou
a movimentar e seguindo o trilho marcado no GPS
e depois de um “toca a dar a volta que afinal não é
por aqui” deu-se entrada nos campos da mina e na paisagem de desolação
e abandono que a caracteriza. Estradão
largo, mas de piso algo pesado e felizmente sem grade pó foi-se avançando
pelo meio das construções abandonadas e das lagoas de grande
beleza pelo contraste com que fazem com a paisagem envolvente que seriam
ainda mais bonitas se não fosse o perigo que representam as suas
águas. Seguindo a antiga linha de comboio fomos avançando
na paisagem com as primeiras travessias ao lado das pontes que de tal abandono
foram ruindo. O sol mostrava-se já como a maior dificuldade e valendo-nos
do providencial protector solar e de umas quantas besuntadelas ao longo
do passeio a coisa ficou menos mal. Com
uns momentos de rolar mais rápido seguidos de outros tantos de reagrupamento
passámos os pequenos povoados e uma quantidade de portões
e cercas que foram sendo deixados como os tínhamos encontrado. Chegados
a Picoitos, primeira baixa, um dos convivas não se aguentou e teve
que ser recolhido enquanto os mais frescos
aproveitavam para manter a frescura com umas “mines”
que acabaram por queimar na valente subida que se seguiu antes da descida
até ao Pomarão (depois venham cá dizer que o Alentejo
é plano…). Depois de mais umas cercas e portões, agora
sim uma refrescante e longa descida até ao Guadiana e claro ao Pomarão.
Chegados dirigimo-nos à nova ponte para um chorrilho de bonecos,
uns em grupo, outros apenas ao molho, e claro muitos em terras de “nuestros
hermanos” com respectiva placa como pano de fundo para que duvidas
não haja (curiosamente não consegui o tradicional boneco do
grupo… mas mandaram-me uma com quase todos).
Depois da conquista do país vizinho voltamos em glória para
parar na primeira, e única, tasca para repor líquidos que
é como quem diz beber uns sumos de cevada. Atestadas as mochilas
de água fresca estava na hora de começar o regresso pois o
cozido de grão mostrava-se
cada vez mais apetecível e ainda nos faltava quase duas dezenas de
quilómetros e a subir. Era também o caminho de regresso, ao
logo da via-férrea abandonada, com os seus túneis que tinha
motivado a maioria a fazer 287Kms num autocarro, por isso tratou-se de verificar
as luzes e começar a pedalação. O primeiro curiosamente
estava “habitado” por um grupo de passeantes
que fez ali o piquenique e que rapidamente cerraram fileiras em volta das
mesas não fosse a horda de pedaladores limpara alguns dos croquetes.
Foi-se assim subindo sempre em companhia das travessas de madeira, já
carvão, que nos provam que em tempos o comboio já ali passou.
Depois de alguma vegetação, mais túneis que ao contrário
do primeiro agora tinham os restos das travessas a obrigarem uma pedalação
mais atenta e também às luzinhas que de tão longe tínhamos
transportado. Flashadas para tudo o que é lado que o momento é
para ser registado. O caminho continuou com pontes ruídas e túneis
em estado algo preocupante onde se foi progredindo à velocidade possível
da caravana. Aqui, devido certamente à dimensão do grupo e
ao calor acima dos 26 graus, parou-se algum tempo nos túneis onde
um estranho cheiro doce ou mais reconhecível ainda, o de amêndoa
amarga acordou-me um neurónio já
há muito adormecido que disse “Cianeto! Cheira a cianeto (Nitrilas)!”
e se aquilo amarelo no chão era enxofre as probabilidades eram grandes
pois o enxofre só por si não cheira assim nem estávamos
a moer amêndoas. A irritação nos olhos, o arder da pele
suada somada à sensação de sufoco que alguns sentiram
deixou-nos no mínimo desconfortáveis. Talvez agora entendam
porque estava um gajo aos berros no fundo do túnel a empurrar a malta
para o pouco convidativo sol das duas da tarde.
Alerta: Correndo o risco de estar a ser alarmista e sem base cientifica
de suporte (ou prova em contrário), fica no entanto aqui o alerta
aos futuros aventureiros por estas paragens para o potencial risco.
Passado
o susto, pelo menos o meu susto, continuou-se com um infindável sobe
e desce ao lado das pontes em ruína seguindo a abandonada linha de
comboio. Com o sol a queimar a pele e a baralhar os neurónios de
alguns que se aventuram por caminhos que não eram os programados
e mais uns quantos furos e algumas quedas a retardarem o regresso. Fomo-nos
assim aproximando do cada vez mais do desejado cozido de grão com
o grupo já bastante fraccionado. Depois de algum casario lá
se chegou às lagoas. Tirou-se mais uns bonecos parou-se em solidariedade
com os que mais acusavam as dificuldades desta mistura de calor com falta
de sombras e finalmente depois de mais uma pequena mas certamente para alguns
infindável subida o autocarro estava à vista bem como o tão
merecido e necessário duche.
Já muito perto das 16h00 atafulharam-se a biclas com um bocadinho
menos de habilidade que na vinda e depois dos banhos avançamos em
passo acelerado em busca do restaurante e do almoço que o nosso amigo
Jorge tratou e bem de organizar. Fomo-nos aconchegando nas mesas que nos
esperavam e lá foi chegando o repasto acompanhado de respectiva reposição
de líquidos, estava bom, mas também tenho que confessar que
nesta altura do campeonato marchava qualquer coisa desde que acompanhada
por uma cervejinha fresquinha.
Comeu-se e conversou-se sobre a aventura ou desventura desta incursão
no Alentejo interior e já só pelas 18h00 e bem para lá
do previsto se tocou a corneta do “tá na hora de regressar”
para nos acomodarmos no fresco do autocarro e iniciar o caminho de regresso
agora sim por Serpa.
O regresso mostrou-se muito mais calmo, não só por o caminho
ser bem melhor mas também por muitos mais aproveitarem para dar descanso
ao corpo e claro conversar mais um bocadinho.
Com as contas feitas e uma viagem com um olho aberto e outro fechado fomos
avançando de regresso ao Algueirão fazendo apenas uma paragem
para os xixis algures a meio. Valeu-nos novamente os préstimos do
amigo Jorge que tratou de nos avisar do trânsito para a 25 de Abril
mesmo a tempo de desviarmos para a Vasco da Gama tornando o regresso menos
penoso.
Já passava das 22h00 quando se começou a desentalar as biclas
e a procurar as rodas que ao escuro são todas pardas como os gatos.
Uns abraços e uns quantos beijos depois, todo o grupo dispersou com
a certeza de no mínimo ter tido o domingo cheio.
Lições aprendidas: 1-Ficou claro que um autocarro é uma opção
muito interessante para o alargar dos nosso horizontes BTTistas
quando com o tamanho certo. O custo foi interessante e ficou perto do de
utilizar carro próprio e dividir a conta, mas o conforto e descanso
foi imensamente superiror. 2- Certamente que não podemos controlar a meteorologia,
mas este local pareceu-nos ser certamente bem mais interessante com temperaturas
mais baixas. Recomenda-se esta volta com tempo mais fresco, que mesmo com
alguma chuva não é de fazer muita lama. 3-Passeios com mais de 20 a 25 pedaladores estão
definitivamente fora da nossa maneira de estar nestas coisas do pedal, não
me parece coisa a repetir, nesta quantidade. 4- Ter em atenção os perigos que se podem
esconder em locais aparentemente inocentes. Esta é uma zona
fortemente contaminada e se alguma coisa correr menos bem pode
tornar-se coisa séria. Os túneis, não
são na mina, mas viram certamente passar quase tudo o que dali foi
extraído, acumulando o que caia dos vagões.
Terminado:
Sabemos que este não foi um passeio nem bem ao nosso estilo nem à
nossa dimensão pois ele algures tomou vida própria e cresceu
para lá do expectável.
Não deixou de ser, por isso, um bom passeio pautado
pelo saudável convívio.
A todos os que partilharam mais uma das nossas aventuras, um Muito
Obrigado. ... e aos que ajudaram a tornar isto tudo possível
um ainda Maior Muito Obrigado.
Coisa para 40Kms rolantes, mas segundo informação que tenho
...
"Iremos percorrer caminhos com paisagens deslumbrantes e com interesse
histórico.
Alguns caminhos são o trajecto do antigo caminho-de-ferro onde foi
outrora a primeira linha de comboios existente em Portugal, concebida pelos
ingleses em 1867, o propósito era o de transportar o minério
desde a mina até ao cais do Pomarão, o qual era transportado
em barcaças até V.Real de Santo António." in email Jorge Lima Saber
mais sobre as minas
Partida e chegada nas Minas de S. Domingos
Plano A:
Alugar um autocarro, encafuar a malta + bilcas, pedalar, almoçar,
regressar!
Plano B:
Não alugar um autocarro, cada um encafua-se por si, pedalar, almoçar,
regressar!
Plano C:
... ir no Sábado, jantar, dormir lá, acordar fresquinho...
Horário:
Sair bem cedo (05h30-05h45 - Algueirão) para tentar
começar a pedalar entre as 09h00-09h30 (Minas S.Domingos)
e almoçar lá pelas 14h00-14h30. Pensar em
iníciar o regresso lá para as 16h30-17h00.
(duas horas para encher o bandulho deve chegar). É conveniente estar cedo para atafulhar a biclas no
autocarro.
Quem se atrasar corre o risco de ficar apeado.
Pontos de Partida e Chegada:
Partida do ponto
de encontro do costume (às 05h30-05h45) no Algueirão e chegada
no parque de estacionamento nas Minas junto à praia.
Banhos:
Temos três opções: mergulho na praia fluvial, blaneário
público (à borliu das 08.00/20.00) ou limpeza a seco :-)
Transporte das bicicletas e dos atletas:
Um autocarro de 54 lugares e capacidade para +-25biclas
e respectivos pedaladores consegue-se a um preço interessante. Desmanchando
(uma roda ou as duas no local) cabem todas. Um bocadinho daquele plástico
das bolhas também dá jeito ou então outra coisa para
não riscar as princesas.
Almoço:
Marcarcando a coisa com algum tempo de antecedência consegue-se um
bom preço e espaço para todos. Recomendam-se as expecialidade
locais.
Desorganização:
A desorganização assume que todos os participantes têm
os seus próprio seguros e são conhecedores do riscos da actividade
(Ver
Aviso) e que os nossos passeio se fazem sempre em autonomia total. A não esquecer:
Bicicleta !!!!(completa!). Comida que chegue para o caminho que água
vai-se certamente abastecendo. Umas moedas para o que der e vier . Os acessórios
do costume para reparar as máquinas e luz para os túneis.
Protector solar.
O equipamento para uma banhoca na praia também me parece recomendável.